Não é objetivo desta seção discutir todos os termos apresentados no glossário da terminologia da confiança no funcionamento (Apêndice A), mas sim, tentar esclarecer a adoção de certos termos que materializam a orientação básica adotada. Além de evitar criar novos vocábulos, processou-se abstrair do seu uso coloquial, restringindo-se aos significados apresentados nos dicionários. Para alguns termos, não foi adotada a sua tradução literal, quando esta não atendia à definição original, dentro do contexto da confiança no funcionamento. Os termos que se encontram entre parêntesis correspondem ao fato de a grafia adotada pelos dois países para certas palavras ser diferente.
Um outro ponto a ser ponderado, está relacionado com a disponibilidade de vocábulos adequados. Em algumas línguas é difícil a diferenciação de certas sutilezas da linguagem: no alemão por exemplo, existe somente um termo para ``falta'', ``erro'' e ``falha''. Entretanto, o mesmo não pode ser dito da língua portuguesa, em especial, para o caso em estudo: pelos exemplos acima citados, constatamos existirem uma série de vocábulos para definir as circunstâncias indesejáveis às quais um sistema está sujeito. Em seguida é apresentada a justificação da escolha de alguns desses vocábulos.
a. Para o termo dependability foi adotado ``confiança no funcionamento'', que exprime bem a conotação de confiança depositada no serviço a ser fornecido pelo sistema. O termo ``segurança no funcionamento'', esporadicamente empregado para dependability, e que vem do francês sûreté de fonctionnement, não foi utilizado.
b. A distinção em português dos termos safety e security é difícil, tanto assim que ambos eram normalmente referenciados como ``segurança''. O termo ``segurança'' foi adotado como o vocábulo básico para traduzir ambos os conceitos, sendo qualificado de modo adequado consoante a utilização. Ex: segurança contra faltas acidentais para safety; segurança contra faltas intencionais, para security. Note-se que o termo ``segurança de dados'', representa uma conotação restrita do conceito de security, relacionado com propriedades como integridade e confidencialidade, de objetos passivos como arquivos ou bases de dados.
c. Os termos ``falta'', ``erro'' e ``falha'' relativos respectivamente a
fault, error e failure, representam talvez a escolha mais
polémica deste glossário. Uma vez que se defende que a qualidade a
preservar, face ao usuário
de um sistema, é o serviço que este presta, o evento
preocupante no seu comportamento será, acima de tudo, a falha no
cumprimento do serviço. Mas um sistema
tem diversos componentes, que cooperam para que o serviço seja
prestado, e é óbvio que a falha terá tido uma causa num componente,
por remoto que seja, que não cumpre assim a sua função, conduzindo
a
um desvio no serviço especificado. Se se aceitar falha
como um termo
correto para definir o conceito apresentado, compreende-se
que são necessários termos para classificar a causa da
falha (falta), e a sua manifestação no sistema (erro), bem como
a capacidade que este tem de tolerar
desvios internos de comportamento, de modo a que não se repercutam
no exterior, isto é, no serviço que presta.
Foi talvez na escolha destes três termos que a abstração
à linguagem coloquial foi mais significativa, devido
essencialmente ao significado semelhante apresentado pelos três
termos e por outros, tais como, ``avaria'', ``dano'' e ``defeito''.
A escolha de ``falta'', ``erro'' e ``falha'', pareceu representar, da
melhor maneira,
fault, error e failure (e no francês, respectivamente,
faute , erreur e défaillance).
d. Em consequência, fica desprovido de sentido, dizer que um sistema é tolerante às suas próprias falhas. A designação correcta é tolerância a faltas, que tem a conotação de continuidade no fornecimento do serviço especificado, mesmo com a presença de faltas no sistema, evitando a falha do mesmo.
e. Para o termo service restoration foi adotado ``reposição do serviço'' ao invés de uma tradução mais direta, tal como ``restauração do serviço'', que em português dá idéia de necessidade de o serviço ser ``reparado'' ou ``recuperado''. Esta situação é desprovida de sentido a nível de serviço, pois o serviço fornecido pelo sistema está de acordo com o especificado, ou não. Neste último caso, caracterizando uma falha no sistema.
f. Para o termo design fault foi adotado ``falta de concepção'' ao invés de ``falta de projeto'' (que seria uma tradução mais direta) pois este último tem uma conotação mais restrita.
g. Na tradução de dorment fault, foi evitada a tradução literal ``falta dormente'', em favor de ``falta inativa'', cuja conotação nos pareceu mais apropriada.
h. Com relação a maintainability, não foi adotado nenhum termo, pois talvez seja necessária a criação de um novo vocábulo, tal como ``mantenabilidade'', já que na língua portuguesa não existe um vocábulo correspondente.
i. Para reliability existiu a necessidade de se adotar dois
termos, ``confiabilidade'' e ``fiabilidade'', respectivamente para o
Brasil e Portugal, pois estes termos já estão de tal forma
incorporados no vocabulário científico de ambos os
países que achamos prudente, numa primeira abordagem, fazer
equivalência, em lugar de uma uniformização. A situação é essencialmente a seguinte:
em Portugal
apenas se utiliza fiabilidade, e ``confiabilidade'' seria o étimo que mais
corretamente representaria dependability, se não fora a
evolução
semântica do termo no Brasil, onde coexiste, com fiabilidade, para
expressar um mesmo conceito.